Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

domingo, 7 de junho de 2015

O HOMEM SEM FACE

Em tuas mãos gotas humanas
De sangue, lágrimas e perdão
Em tuas mãos acolhimento
E abraço, um homem quando
Sozinho nasce, e sobrevive
Numa selva de escuridão
Encontra um milagre em
teu gesto, Herói sem face,
Encontra o sentido da palavra
Humana de ser humano
Quando mais do que sobreviver
Podemos enaltecer os nossos
Povos e abraçar com o coração
Os nossos semelhantes, podemos
Mudar as regras talhadas com
Sangue, e com ossos de tantos
E tantos infantes sagrados
Perdidos amortecidos arrancados
Dos ventres descosturados
Pelos olhos de fuzilamento, pela
Insensibilidade tamanha humana
De um contato de próximo e
Próximo degolamento, mortal
Falecimento, quando faço do
Meu ato um punhal e da minha
Lei uma cova a mais num quintal
De lágrimas imortais, lágrimas
Sementes de plantas e de esperanças
Para que qualquer coisa humana
De verdade nasça e retorne para
NÓS...

Em ti, quando vejo o teu olhar
Que nasce, as mãos estendidas
Sem nada me pedir, oh meu
Humano Herói sem face, por
Que não somos como ti?
Por que ardemos desesperançosos
Egoístas e insensíveis, fingindo
Que as dores não existem e
Que entre um pão e outro a miséria
Não alimente a fome? Por que,
Meu ser humano sem face,
Não somos um pouco do que és,
E continuamos vivendo num
Mundo onde nos confortamos
Todas as noites com a suposta
Insuficiência de uma santa
Caridosa milagrosa fé? Por que
Fingimos não perceber o cheiro
De abandono esparramado pelo
Gigante interminável do mundo
Quanto tu és o gigante sempre
Operante para o mínimo sacrifício 
Sacrificar-se, com tuas mãos
Agigantadas pelo Céu, ser que nasce
Dos milagres das lágrimas do papel
Meu herói sem face, que está em todos
E em ninguém! Por que não somos
Assim, como um dia pensamos ser
Por que choramos sem mostrar as lágrimas?
Por que não existimos todos com o
Mesmo rosto da igualdade impenetrável,
O rosto por trás da face, a face por trás
Do rosto, o milagre de ser somente dentro
O que seríamos de verdade o que
Queremos ser, esplendorosos,
Sol e amanhecer...uma flor que para
Sempre nasce...em ti e em tuas
Abertas milagrosas mãos
Meu Herói sem face, meu irmão!

Por favor, meu caminho trace,
E como uma flecha, de
Um êxtase transformador
Meu peito assim traspasse
Ele Renasce,
Meu herói de todos os rostos
Olhos e coração
No espelho sem molduras
O Homem sem face
Os olhos do meu Irmão



FC



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                                    David Alfaro Siqueiros 


Um comentário:

  1. Lindo, adorei, um olhar sobre o coletivo, de que há atras dos nossos rostos, de como geralmente passam por nos tantos rostos que sequer reparamos,"igualdade impenetravel " das multidões,da diversidade do viver de cada um...é como olhar um campo de flores , de longe elas parecem todas iguais, e a medida q nos aproximamos, elas são todas diferentes..👍🏻👏🏼👊🏼🌹👊🏼🔝😍😘

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