Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

terça-feira, 9 de junho de 2015

O PAGADOR DE PROMESSAS




 OS PEREGRINOS ENCONTRAM O PAPA
                                                           
Vittore Carpaccio




Santo milagre, de incomensurável palidez escarlate
tinge os olhos dos santos, dos voláteis volatizáveis espíritos santos
espíritos humanos, tingidos de vermelho, tua pele e teu manto
os pálidos milagres todos de tantos e tantos santos
os santos humanos viventes em mim
na humanidade que é minha
e montanha elevada sobre meus pés
os teus milagres santos dos tantos incontáveis 
inacabáveis fiéis....

os teus olhos na areia, os teus coníferos chapéus, santos, 
de poeira, todos santos, e muito honestos, todos honestíssimos, 
todos muito mais  perto da entrada dos celestes portões 
somente por custosos bastões segurarem
e a sagrada hóstia fabricarem,
como um pão feito em ínfera padaria

Onde bebem os Lobos?  Onde escondem-se as armadilhas?

Tantos e tantos santos, tantos os mapas guiados em tuas cruzadas
pálidas guerras da fé
os míseros talentos de todos esses anos,
a nossa história e teus murais
o nosso sangue no silêncio de vossas molduras
emoldurados em tuas pinturas, empalados em teus infinitos anos
todos desconjuntados, alinhados nos painéis
as pinturas mais humanas
dos santos infiéis
bastardos tantos, santos todos santos
imundos anos vermelhos no sangue de teus mantos
hereges mantos, mortuários incensários
turíbulos nos olhos de fumaça
o monstro que tu és
o santo bispo cordial
besta imunda celestial
és o que tu és
quando me entorno e me dobro aos teus pés
meus sacrificados mortificados pecados santos
tantos, são tantos e tantos
anos, pecando sem ter fé
excomungando uma justiça ré 
guardando no teu peito armado secretas
veladas armadilhas da fé
as pinturas e os murais
os santos bacanais
os olhos vítreos de fumaça
os padres pederastas
e a mentira sobre a escuridão e a luz
dos meninos estuprados
os meninos estuprados na cruz

sim, meu senhor, 
és o que tu és
somos todos imperfeitos
e santos aos teus pés
mas perto de ti, somos nuvens rosas no arco-íris do céu
a ponte entre a Terra e o Domo celestial
somos a Ponte, o Sol, a Alma e o Horizonte
e as Cores Alegres do Arco-Íris, 
meus santos travestidos, ingloriosas meretrizes do asfalto
somos todos sem direito de pecar tanto e tanto
tantos anos pecando por sermos somente santos
somente santos pecadores aos teus imaculados pés
e tu, o que tu és?

Diante dos olhos lacrimosos de Cristo
roubando apenas por ser Bispo sem direito a coroa seja de ouro ou espinho
sem direito ao crucifixo! 

eu me sujo lambendo os teus pés, meu ilustríssimo senhor
estuprador e violador
rastejante pastor, orador, pregador, parvo fiel ou crente
tu és a mais podre mentira inventada por uma desesperada humanidade
esfomeada, burra e doente

Tuas mentiras bastardas
sujando a beleza do meu mundo 
já impuro, e cruel
eu sou somente isto
eu e aquilo que vejo
enquanto tu, 
meu querido Bispo
és o fálico Anticristo
penetrando nas falhas das rachaduras das inconsciências humanas
os erros e os tantos desterros
Tu és o dízimo 
és o final e o dia do juízo
sem consciência
diabólico querer
as santas penitências

Eu sou o santo pecador
amante dos meninos angelicais

enquanto tu, 
és o santo estuprador, 
violador dos princípios universais
o teu manto nos murais
nos murais
nos murais
infernais
infernais 
infernais 
bestiais
bestiais

bestiais de ti
tanto vermelho 
e tanto sangue
os meninos cegos mortos sem luz
esse símbolo do diabo
essa vermelha diabólica cruz 
dos murais
infernais
honestos bispos e cardiais
honestos seres bestiais, 
que pintam com a luz
que brincam com a cruz
de cabeça pra baixo
se masturbando com os castiçais de prata

Santo Deus, 
Cálice, pois das galhetas fizestes 
Receptáculos de espermas de punhetas
Da patena um simples prato onde esmagas 
As pedras de sague e pó guardadas na teca onde as carreiras humanas 
Todas cheiras
As enfileiradas carreiras humanas do pó que viemos
o pó que somos, o pó que fizeste de nós 
Vil embusteiro
Pastor fuzilador

As ambulas depositário de ambulatórios invisíveis,
Fazendo o infeliz crer ser menos do que um ser, 
Ser doente e sofredor de uma espécie de perene 
Enfraquecimento, enquanto na tua alma talhou o teu divino lema
“Eterno pecador, excelente pagador”

Dos ostensórios transformador, meu santo pastor, 
Somente ostentação, e do Círio Pascal, 
A vela grande e grossa benzida, 
Sacrílega masturbação retal, 
candelabros de ouro enfiados no cú
Aumentando a largura do teu reto afeto, e tuas anais sacríferas feridas
Escravos do períneo escrutínio sacal
Quando na urna do teu útero abissal depositam todos os votos santos virginais
Dos santos meninos angelicais
Seminais seminaristas pastorais!

Sêmen e dor, e sangue e pudor, e uma pitada de horror!
Oh grande e honrado senhor, apresento-lhes
A obra de vaticínios onde Vates e Canos são profetas cegos a procura de um varão, meu ilustríssimo bentíssimo senhor, 
A obra que criaste em tuas cúpulas mortuárias, 
vil senhor, ser vil que dita a dor
O Grande Masturbador

Hoje, numa Terra devastada pelo vermelho de tua cor
A bandeira de teu ser
A estrela solitária de teu vermelho escarlate rubro poder
Vejo os anjos caídos borrados nas paredes
e todos se vestem trajando-se de imortais
santíssimas santidades
enquanto nos quartos da trindade
quintos 
dos infernos
dos palácios
das cidades
onde não escuta-se os gritos dos sinos
estupram-se os meninos
e cobram-se os dízimos
os dízimos
aos teus pés rasteiros e lépidos 
pagam os fiéis com os plásticos cartões de crédito

amantes
o ouro e os diamantes
as pedras mais valiosas
do mundo
todas elas aos teus pés
aos olhos lacrimosos de Cristo
meu querido honradíssimo pastor
aos sorrisos irônicos de Mefisto
meu querido ilustríssimo Bispo
aos teus sujos encardidos pés
a santa doce pureza da inocência
da infinita ignorância do mundo
e a santa burrice da inculta estupidez humana
as lágrimas dos fiéis
todos aos teus pés,
imundos pés
os crentes bastardos todos do mundo que me queimariam na fogueira se pudessem
ou talvez me dessem um tiro, uma bala
ou um raio do infinito céu
se Deus fosse, assim como eles dizem
 verdadeiramente FIEL

"DEUS É FIEL"

E VOCÊ, ESCRAVO DA LUZ, É O QUE?

Aos teus pés santos a dor e o vermelho
Do mundo inteiro
as chamas e o espelho
de teu ser
Bispo e Mefisto
Cristo e Anticristo

santo manto vermelho de sangue
humano
patrocinador da santa alienação
na suástica vermelha por trás de cada cruz
erigida nos tijolos do mundo
o sangue de todos os mortos que carregas
o peso te todas mentiras que dissestes
as santas mentirosas palavras que tu pregas
todas elas com os malditos pregos
vermelhos do inferno
pregados em cada chaga
em cada estigmata 
da amaldiçoada cruz 
vermelha
oculta verdade nos sinceros olhos de um sincero eremita
assim venha
a morte maldita do papa
e a verdadeira  re-ligação 
com a fé
sincera, pura, e interior
que não moras em ti
e jamais te habitou
meu querido Anticristo
meritíssimo ilustríssimo senhor
o sócio do teu bispo
é o santo cardial
e o boneco da cúpula de sangue
será sempre o próximo, e o próximo
herege ser papal



Adeus, te vejo no inferno
e no próximo
apostólico romano sagrado bacanal
santo dos mantos obscuros
das estolas negras
do véu umeral de Maia
Adeus
Deus não morreu
Ele se suicidou ao ler teu missal

Deus se enforcou na própria cruz da Santa Igreja
Quando viu seu filho se transformar em teu pedágio particular 
e a ponte pretexto para humana servidão terrena

Deus está morto
E o único, e quando digo único, quero dizer, somente,
O único lugar que ele ainda vive e respira
É dentro de nós
E lá somente
Desnudo
Sem capa pluvial
Sem Casula
Sem Amito
É lá, aqui, que ele vive e chora
Qualquer outro lugar que seja fora, ou é mentira
Ou é maldito

Qualquer lugar incluindo tua palavra, hediondo nefasto velhaco
Quando tu, no teu palácio, em teu santo veleiro, 
No jardim da tua carnívora mansão
Contando as notas dos desesperados miseráveis 
Ao criador mostraste tua obra infeliz
invejável criação 
Obrigaste os fiéis escravos
Da palavra e do simulacro de Deus
A doarem não suas almas, 
Mas a única liberdade que se possui
Em uma única vida, a liberdade do pensamento
E de se existir livremente, livre de Deus
Do teu DEUS

Roubaste mais do que almas, roubaste possibilidades de humanos
Se apropriarem da grandeza do conhecimento
Somente para que tu, criatura vil, 
Pudesse ser Livremente, mais do que um ateu, 
Um honrado pagador
Das exorbitantes comissões 
Aquelas que diariamente envias para abaixo de nós
Para debaixo de nossos pés fiéis
O lugar ausente de luz
Onde mora o pai vosso que hoje toma conta
Das almas dos tais meninos 
Estuprados na Santa Cruz


O teu manto vermelho, e o teu reflexo inexiste no espelho
Cuja alma não reluz
Os santos e os tantos e tantos santos vermelhos
Os escravos cegos da luz



FC

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