Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

sábado, 6 de junho de 2015

GENESIS

Há principio, no quarto barato de um motel
De beira de estrada, as trevas cobriam as
Paredes do muquifo, e algo sem face, barbado
Se movia no escuro sem forma, enrolado na
Toalha, escorregando na escuridão do banheiro
Pelos azulejos do abismo, e o homem perguntou:
-Onde está a porra da luz? 
E a mulher respondeu:
-Do lado do criado mudo.  
E assim o Homem falou,
E o quarto se iluminou, e se fez a luz...
O Homem no banho as águas limpas sujou, e
Separou as águas das águas, então, mais limpo,
Saiu do banho, com águas escorrendo por cima,
E outras escorridas por baixo, e ali parado, por 
um instante, olhando o reflexo recém criado, 
ainda meio embaçado no espelho ficou. Uma 
lâmina pegou e a barba tirou. Com a face limpa,
pela primeira vez se olhou. Rugas e verrugas.
Traços de cigarros, do pó que viemos, e cheiramos,
de noites mal dormidas, traços das coisas da vida!

Ás aguas tinha de certa forma separado, aquelas
Que não tinham lhe tocado foi onde o gérmen
Não vingou, na pocilga infectada, onde o
Silêncio imperava, agora ele falava, e voz
Ao criado mudo dava, quando à criada muda
Bobagem alguma perguntou...

Estava com frio, e autoritário questionou a
Mulher ,que esperara inerte em cima da cama
A hora de sua ação, o momento exato para entrar
Em cena, como certas garotas de programas, as
Meninas dos Mecenas, a pequena floresta negra
Apelidada de pequena Helena, o Homem baixo,
De barrigada volumosa, um medíocre mestre
De obras, frustrado arquiteto, pobre construtor,
Conseguiu manter ereto, o membro criador, e sob a
floresta negra os olhos pousou. Viu em sua aclamada 
sugestionada, superior e preferencial visão, a mesma em
Quadrupede posição, o excessso de vegetação,
E percebeu que podia como um jardineiro fiel 
Separar a flora, as heras , as trepadeiras, os pinheiros, 
mudando as plantas de Lugar, como também as faunas, 
expulsando os carrapatos, as pulgas e os chatos, assim faceiro, 
para não perder muito tempo, de fauna e vegetação, com 
supérfluos maneirismos na expressa defloração, tudo que
No fim levaria a perda de uma tao difícil,
Conquistada e soerguida ereção. Se pôs logo a trabalhar,
Como fiel pedreiro nos confins de um galinheiro,
Em sua espetacular decoração, a mulher paga
Para se prontificar muda simplesmente se calar
sem direito a opinar, como um objeto sem sentir
As dores humilhantes daquela velha usada
Lâmina suja de barbear, abjeto tão cortante
Que como um cinzel, separando a Terra do
Céu, trazia para sua fantasia a nova origem
De um novo mundo admirável!

Sobre a mesa um pobre vinho sem rótulo
Barato e com gosto de álcool sem uva. Assim
Terminava o dia da criação quando o homem
Arquiteto do medíocre , ser que nos toca de luva
Fez um admirável mundo novo com um
Sabor de fruta lambida, o inconfundível
Sabor da vulva....

FC




                           AGENOLLADA AMB EL CAP INCLINAT CAP AVALL

                                                    Egon Schiele

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