Os quadros dentro dos quadros, silêncios dentro de silêncios
em tempos que nada mais falam.... assim somos, telas das premonições, quando
meninos cheios
De sonhos morremos aos poucos em lentas e quase
imperceptíveis degenerações...
O que traz a ostentação e a soberba? O que são meninas puras
depois da demolição irreversível da primeira penetração? Colônias erguidas
sobre as matas virgens, devastadas, povos queimados, costumes deflorados como
flores de estação, rosas, margaridas e gerânios, todos eles empalados, eviscerados de uma só vez, no pendente de um só crânio...as
previsões amargas de um quadro pelo silêncio emoldurado...pela sordidez de saber que dias passam e os atos ficam, assim como os ossos, enterrados no passado...
Belo e magnífico quadro!!!
Onde um rosto não foi pintado, o rosto de Hernán Cortés de Monroy y Pizarro, o seu
rosto e seus louros, onde os olhos brilhantes das infantes meninas, também Therezas, também Margaridas, foram as flores arrancadas dos campos, ceifadas da vida...valiam apenas cintilantes pedras de ouro e nada mais...foram esses os seus louros, e talvez por isso vacilante, o rei
Felipe e sua esposa Mariana não adentram na pintura, já sofrendo as tremendas
dores de uma culpa, quase uma ponte para a senil e precoce loucura!
Um império construído em cima de crânios e esqueletos, talvez
por isso, deliberadamente
Os seus rostos permaneçam opacos, nos observando inquietos, alarmados no fundo, assaltados pela
vergonha de um passado aniquilamento de chacina tamanha, e nas profundezas de suas entranhas mais humanas, sofrem a certeza de um
pressentimento do hoje do que daquilo que seria e está sendo a magnânima invencível Espanha,
vitimada pela fome e pelo desemprego, império da decadência....assombrada pelos fantasmas dos seu passado, vítima
de seus erros... as famílias dizimadas atravessaram o Atlântico navegante
para se instalarem no subconsciente de uma nação Imperial,
E assombrá-la, e assaltá-la, e dizimá-la...
Sorridente na pintura, um pintor serviçal, cujo talento
descomunal não podia revelar tanta dor e tanta tortura numa só tela de fria
morte onde o motivo era
A mais pura compostura, bela e cordial da honra e dos
méritos, cujo espelho refletia os reflexos já esmaecidos de uma dor
colonial, as palavras sem molduras!
Gigantes viram anões, reis
viram vilões, e não importa qual justificativa ou lei inventada para consolidar
injustas Constituições, um assassinato será sempre um crime e perpetuará eternamente
uma sociedade de párias e de ladrões...
As estupradas meninas e os vilões fratricidas...
Vozes sem perdões!!!
Viva o Império de Homicidas!
A esquadra sem corações !!!
FC
AS MENINAS
Diego Velázquez
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