Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS AZUIS






“A CRUZ BRANCA”
Wassily Kandinsky




OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS AZUIS



traço de uma gloriosa redenção
traço de um rastro
traçados
os traços
traças
traças e traços
traças que traçam os traços da nossa gloriosa Redenção
traças que traçam os traços traçados da nossa traçada gloriosa Redenção
traços de traças que traçam os traços traçados da nossa gloriosa traçada Redenção
traçados os traços dos gloriosos redentores
redentores e seus traços de Redenção
redimidos os traços dos rendidos traçados sobre as dores das traças que traçam
os traços e que das traças que não são mais do que traços
dos traços do nada
de tudo que és
um traço
do que sou
uma traça em minha página
um traço em teus pincéis
os olhos das cruzes
tortas
as cruzes mortas
das traças que falam
e traçam os caminhos
das redenções
os caminhos das concretas intepretações
nas puras reais vitais abstrações
as vidas e as ilusões
de ser mais do que traça
e traço
e irredimíveis
sensações
vistas
nas telas
e nas
páginas
dos nadas
completos
de tudo
que já foi
alguma coisa
para alguém
no final
e no começo
de um novo
e concreto
mundo
o início da minha
abstração
nos traços imperfeitos
da total
falta de sentido
das tuas traças
persecutórias
e críticas moratórias
de uma abstrata possível vitória
por somente existir e nada mais
numa concreta
oposição
onde somos
crucificados
abstratamente
em cruzes
brancas
pretas
vermelhas
marrons
na
concretização
da morte real
da minha vida
pelas
tuas
mãos
concreta crucificação
de plenitude dos fatos abstratos
os reais silêncios falados nas telas onde tudo se vê
os traços do nada
e as traças que comem as tintas
e as páginas
dos sonhos
reduzindo
o mundo
em
uma abstrata
concreta
ilusão
as traças da fome
e as cruzes traçadas no destino
de um homem só
abstrato no mundo
crucificado
tanto pelo sim
tanto pelo
não

“reconstrua o nada que sempre fomos
ou saia das telas dos pensamentos
abstratos
e mudos
sem direito
sequer ao
exílio
da própria abstração
morto numa indiferença
sem voz
sem direito
a solidão
traçado assim está o teu destino
irrevogável sobre ti
está
lançada
das traças sem traços
a tua execrável
sórdida
arbitrária
maldição

é o Tudo ou o Nada
é Agora
o Sim
ou
o Não"




FC

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