Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

sábado, 6 de junho de 2015

A CIDADE DOS OSSOS

Mortal presságio, de estelar terror, paira sobre nós estrela esquálida, confunde-se sobre tua face o caminho bifurcado da vida e do horror, a morte quase apagada, diluída, um anjo sem asas em incerta tumba, sarcófago ou zigurate?

Não sabemos mais o que somos, se tumba viva, ou germinal cidade? Quando as folhas te comem como o vento, quando as paredes te oprimem em sofrimento, quando perde-se a humanidade e milhares de tijolos erguidos sobres as faces apagadas nas paredes sem identidade, não falam mais sobre os rostos, sobre as histórias dos encantos, as pequenas humanidades...quando olhamos sobre a selvageria infinita das pedras e nos perguntamos se existe além do mundo de concreto um pedaço vivo de céu... uma estrela viva que não seja de plástico pendurada no alcance dos nossos olhos, no ilimitável dos nossos pensamentos, se ainda podemos dentro de nós pensar sobre um mundos sem muros e tijolos...?

O passado é uma lagarta em extinção,  flores brancas quase mortas, vegetações raquíticas e tortas, são teus braços, cadavéricos e esquálidos, numa reminiscência vaga de jardim.  Secas folhages. Outono e inverno, inverno e outono, nada mais.  Tuas leis efervescentes, tábuas em linhas tortas, não duram mais que um breve presente auto-sustentável... morrem como os tigre da neve que não existem mais, como os leopardos, como os rinocerontes brancos...como o mundo ao nosso redor...a vida em extinção!

A fera conjugal, a besta glacial, macilento dias de esquálida conquista, teus olhos sobre a mesa, e uma indiferença desbotada, teu rosto sem maquiagem, apagado no espelho sem memória, esquecido no rosto da civilização, sem vitória, sem mutação...descorado, sem batom, numa tarde qulaquer, parte o nosso trem, na última tarde demais para se esquecer, as plantas carnívoras demais para se comer, os homens e os animais de estimação, os sonhos anêmicos, delinquidos, borrados na fumaça de verão....a fumaça do vapor do trem, teus olhos de âmbar desbotados, também em extinção, como a lua esmaecida na tristeza do céu, piscavam como um único adeus no sincero abandono, de uma partida, de uma viagem sem volta, uma lágrima escorrida....a criança deixada no beco, o antro lânguido de teus olhos vegetais...as plantas comendo os homens, e os homens comendo os animais, selvagens, a besta incapaz de um ato de coragem sequer, afundam assim no peito o transatlântico da mediocridade, da ferocidade da ignorância, da ganância milenar, ser mediano, imperfeito, inábil  protetor dos muros da cidade, ser humano violador dos portões sagrados....incompetente perdedor!
Temor e medo, fúria e desejo, parte para a evaporação de sua atemporal solidão...assim sempre foram os homens, que com dias gloriosos nas mãos, 
Miseráveis, acabavam na poeira dos desertos dos ossos rarefeitos, moídos e triturados, uma história movediça, de poeiras e lembranças mortas...todos nós,
Vítimas do esquecimento, do egoísmo....devorando, as plantas, os restos dos nossos sonhos, dos nosso tijolos, e se aninhando nos mais secretos desejos do quartos mais trancados dos mais secretos
Jardins do nossos volúveis e magníficos pensamentos...os fins, os meios e seus misteriosos desaparecimentos!

FC




                                  LA VILLE ENTIÈRE

                                        Marx Ernst

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