ESQUELETOS DISPUTANDO UM ARENQUE FUMADO
James Ensor
viver ou morrer?
O que somos ao longo
do tempo?
Se suprimido as
emoções, os impulsos e os sentimentos
O que seremos, além
de pele em cima de ossos
Despencando como a
neve dos telhados descongelados, quando tocados pelo sol
Lágrimas no deserto e
olhos de areia
O que somos além dessa dor de ser poeira,
E tentativas de
sentir a plenitude por uma vida inteira
Uma ilusória
liberdade de estarmos violentamente presos dentro de um
Próprio
apodrecimento, o que fazemos mais além
De equivalentes
escolhas que nos levarão sempre para o mesmo enterro
Independentemente do
sucesso obtido no meio do caminho,
Brindaremos
indiscriminadamente sempre juntos o mesmo erro
E o mesmo Fim
O erro de termos
nascidos
Vivos
Pois se mortos
fossemos, poderíamos continuar mortos vivendo...
Teríamos nascidos
todos mortos por direito
A herança garantida congênita
do atávico morrer-se enquanto se nasce, e tu, meu querido vampiro
Não precisarias sugar
a vida por uma vida inteira, nem sofrer a maldita beleza de ter que morrer
menos só do que és e sempre serás
Pois a dor de estar
vivo não te pertencerias mais, a dor de virar pó
E mais do que pó, ter
nascido do pó que te consiste
Ossos de vilanias e
vilezas
A morte da vida na
Beleza
Em meu ser tão carnal
e vivente,
Dor minha tão mortal
e latente
De morrer todos os
dias um pouco vivo
E um pouco só
Absoluta e
completamente só
Assim eu digo, e me
pergunto o por que
De não termos
nascidos mortos
Para assim,
Mortos podermos morrer em paz
Sempre os mesmos mortos
Vagando pelo mundo,
Respirando a vida de
outro ser
Atordoando meus
pensamentos
Manchando a alegria
do meu viver
Com seus silenciosos ossos
rangendo na trevosa escuridão da noite,
Com seus odores
pestilentos
Empestando os
cintilantes fulgidos coloridos fulvos brilhos escapados das flores
Matam o tempo pois
mortos já estão
Matam as dores pois
nada sentem
Matam os amores porque
mortos não amam
Matam as cores porque
pálidos vivem mortuária chama de lividez tamanha
Que nem o mais
colorido Mondrian
Seria capaz de desperta-te,
Vil criatura,
para as cores
nascentes da manhã
Mornos mortos
Indiferentes
Inexistentemente
mortos
Deus da vida, aquele
que inventaste tal macabra diversão
Se vivo tenho que
morrer
Como invejo esses
mortos todos
Oscilantes entre o
sonho de acordar menos vivos do que antes,
E o pesadelo de
voltarem da morte menos mortos e mais distantes,
Com menos tempo de
vida
Esses mortos
dançantes, estuporantes
Que todos os dias
assisto sem poder morrer,
Com medo de encostar,
pois admito
Sustentar
inconfessável temor
De morrer de uma morte
vivida
De ser contaminado
pela vida do não viver
E passar morto os
restos dos dias que me restam pra viver
Os mortos que dormem
e respiram
E não precisam nunca
mais falecer
Invejoso de mim
Vivendo num mundo de cadáveres
que falam
E andam, e se vestem
de rosa, de vermelho, de azul
E ainda brigam por um cigarro de arenque
Os mortos que não precisam
morrer
Já estão enterrados,
e exalam podridão!
Como invejo esse
mundo quando vivo vejo
Esses corpos que
falam sem a morte perceber
Os lábios pálidos,
As frases geladas
Os olhos frios
Lívidos viventes
mortos pelo vazio
Oh, como quero gritar
e existir mais do que tudo no mundo,
Como quero viver sem
ter que morrer
Morte vil e maldita
Perversa nefária
condição humana
Como quero ser e ser
e somente ser
Como quero arrancar de
mim essa dor num berro, num grito, num tiro
Num trovão, numa faca
cortante o ar da morte penetrante
Triunfante sobre nós
terrenos
Plenos de vida cheia
Que bate e bate
E bate e bate e
explode coração
Quando apenas
Somos os escravos
aparentes das regras
Diárias e eternas
Enquanto uma vida nos
durar
E isso será o que
entendemos ser para sempre
Até morrermos de uma morte
natural
Que virá como uma
tarde calorosa de verão,
Assim, sem avisar,
porém, já pressentida
Pois ela, esguia, em
sua elegância esvoaçante em fina seda, seu perfume fatal espargirá pelo ar
Anunciada pelo vento
e pelos beija-flores....
Enquanto o Sol estará
se despedindo no derradeiro dia
Desflorando-se nas
fervilhantes cores do horizonte infinito
Nos dando um
maravilhoso e educado colorido último adeus...
Pois nascemos assim,
todos vivos
Corpos amontoados num
canil
Num mundo
injusto, onde os mortos nascem
Mortos e vivem uma
vida senil
Matando os vivos com
sorrisos cadavéricos
E olhares bombásticos
De um míssil satânico
que explodiu
Ai meu Deus
Como queria poder
morrer por um dia
E poder me despertar
pela manhã, e saber
Que vivi um sonho
real
Vivi a morte eterna
de uma vida finita
Para nunca mais ter
que morrer outra vez
Ai meu Deus
Como pensei ser
Imortal
Ou talvez poder
renascer
Todos os dias como o
sol
Cada vez que tivesse
que morrer
A minha vida , o meu
ser ou não ser
FC
Uma grande explosão de sentimento!!! Intenso, profundo. Bj de Luz🌟🌟🌟⭐️👏👏💋💋💋
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