Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

ECCE HOMO

Da espuma, da cor, do mel, do fogo, da passado, do vento, do calor, da água, das estrelas, da fonte suprema de amor...

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa......................aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...........

E caímos aqui, caímos aqui assim, tão cobertos de nós, tão deliciosamente sós, cobertos de nós e de estrelas limpas, de noites de porosa escuridão, de cativantes feras, de meninas com estrelas do mar no cabelo, e meninos com jubas de leão, de confortável acolhedora solidão, tão cheios, cobertos de histórias, de fogo e paixão...
Do lugar da onde viemos....lindo lugar, sim, ele era lindo, ou será que não era? É verdade, nós viemos de algum lugar, mas assim que chegamos, eu não me lembro direito, acho que bati com a cabeça na pedra, a pedra lascada do fogo, da arma e da roda, isso, foi quando perdemos a memória.....
Perdemos ou esquecemos cada lágrima de que somos feitos, da onde viemos...
Cada traição, ou cada estrela iluminada, perdemos o direito de não se esquecer, quando cercado em nós já estava traçada a dor da propriedade, do ser no topo do mundo, no centro de braços erguidos, 333 andares, e uma cobertura de cristal arranhando os calcanhares do céu, para onde eram levadas as conquistas de carne, e dali elas podiam ver as estrelas caindo sobre elas, fazendo amor, sentindo-se acima das nuvens , no escuro apaixonante de ser amado e ser amante debaixo do infinito céu, as paredes e os telhados de vidro dos homens, entorno de suas frágeis peles...

Eles não se lembram mais daquele lugar da onde vieram, lá longe e distante,  mas isso não importa muito quando se pode ser um típico amante natural na frente de 10 milhões de olhos vigilantes....os olhos das janelas indiscretas das cidades... isso não faz a menor diferença quando podemos gozar na frente do mundo inteiro sem se importar se alguém que está assistindo vai achar isso tudo uma indecência! 
isso nao faz a menos diferença quando transformamos as paredes dos nossos sonhos em tijolos e as da nossa casa em vidro, e fazemos de cada noite um bacanal transmitido ao vivo para os milhões de curiosos do desconhecido.... os andarilhos multiplicadores telespectadores das nossas cidades, das nossas grandes e pequenas humanidades, os homens das estrelas, terráqueos da vila, onde as feras ficaram atemorizantes, onde as meninas vendem  por alguns trocados aquilo que poderia ser comparado à uma estrela decadente do mar, ou a algum molusco qualquer...e os meninos com jubas de leão, esses, coitados, fazem fila, Les Misérables, também vendem os cabelos e os pedaços daquilo que podem para o grande Sansão, o Cafetão, e se fazem de Dalila, dançando nos palcos dos antros escuros com veias impuras, arroxeadas de overdoses de purpurinas.... 

-Quem somos nós agora? 
-Amorfos amantes viciados em morfina !!!


Acima de mim somente o céu?

Quem somos nós para sermos mais incandescentes do que uma estrela? O que somos nós de verdade? Amigos de um só, de um pequeno sujeito sempre sozinho dentro de nós, uma velha e antiga voz, sempre crente, esperançosa, sempre semente do ontem, do agora, plantando o fruto do futuro, o amarelo do sol nascente amanhã...sempre distante, ora mais próxima,  profundamente silenciosa e gritante dentro de nós, a todos e em qualquer instante, socorro, há algo de errado em torno de mim, em nós... grita esse grilo, essa guitarra, esse martelo sinfônico, esse mudo escultor de pensamentos e sugestões, o doce e o amargo que está em nós, esse pó de essência e sonho, essa consciência de poder infligir dor, como também sentir e despertar o mais difícil nos homens , a esperança de voltar a se acreditar de verdade na existência do puro e verdadeiro mais sincero amor... é isso, somente isso, pois é isso o que somos nós de verdade....a pergunta não é quem, mas que? pois o que faz o quem! a Pietà jamais seria a Pietà senão fosse feita de mármore... que somos nós? e a partir disso, o que podemos fazer com isso? quem somos nós e por que, estará estritamente conectado com a essência da pergunta, o material da escultura do ser, justamente o " que"? somos o descrédito do amor, da força de se amar, puramente, incondicionalmente, ou somos "a esperança de voltar a se acreditar na existência do puro e verdadeiro mais sincero amor?", somos essa esperança ou o medo de ser o que somos de fato, se hipoteticamente formos somente e simplesmente justamente  "puro amor", será preciso de esperança para voltar acreditar em que? no que somos? em si mesmo? se somos apenas isso e nada mais, e também o medo de assumir as consequências de sermos o que somos, num mundo onde ninguém é...

Somos na balança final muito mais culpa de não ser e vestígios de dor, e alguns sinceros e momentâneos irrisórios esforços para ser, por alguns instantes, o que somos, e alguns momentos onde verdadeiramente somos, que é quando brilha o sol, aqueles instantes inesquecíveis que sentimos a vida e sentimos que existimos de verdade, além de toda culpabilidade humana qualquer! Isso é tudo o que somos e tudo que nos restará em cada célula, em cada vibração mínima de molécula, em cada timbre, em cada tom, em cada cor, em cada som, em cada gesto reprimido de explícita e natural vontade de perdão...isso não é judaísmo, ou islamismo, ou budismo, ou ser cristão, 
que se foda tudo isso, isso não é religião, isso é o que somos, isso é ser nós simplesmente, amor e perdão, isso e somente isso e nada mais...e é isso o que não nos deixa dormir, e nos fará para sempre chorar e chorar, e berrar cada dia de nossas vidas...é esse não deixar-se exercer total e livremente nosso absoluto e apoteótico descontrolável e humano ser, reprimindo nossos ossos e tutanos, afundando nossos músculos e nervos e órgãos e desejos e quereres nesse não cumprimento da essência mais honesta da nossa existência, do nosso reflexo natural diante de tudo, é isso o que faz doer, e cortar os olhos, os pulsos, estilhaçar as janelas, encher um revólver de balas amargas, bater e bater, e doer, é isso que corrói por dentro feito água em nobre metal e sua vil ferrugem, é isso que destrói a metáfora das asas, o real tangível angelical nascente e propulsor de cada impulso humano vital e o faz sofrer como porcos sem pocilgas, como miseráveis sem mãos amigas, todos eles, presos no fundo de um triste armário vertical, que horizontalizado já serve para o túmulo, ricos e milionários, pobres e viciados, e alcoólatras, e obscenos, e acimada de tudo: mortais.... limitados por uma vontade imprevisível, surpreendente e soberana: a vontade incorruptível do TEMPO.... é por isso que somos cada dia mais secos em dias de sol, ao invés de luzir...a pele mais amarelada, em dias de solidão, o sorriso mais acanhado nos momentos de explosão e cada vez mais rara e espontânea a felicidade aparece se não for eufórica e forçadamente convidada a entrar.... é por isso que enchemos a cara de merda e alienação...

hoje é esse sendo não sendo o que somos, que nos faz assim, tão doídos, tão frios, tão problematicamente modernos e autônomos, tão agnosticamente previsíveis.....seres humanos do futuro, para onde vamos?

Se a minha religiosidade fosse algo medieval, eu responderia com uma só expressão:

-Para o INFERNO!

Oooooooooooooooooooooooooooooooooooohhhh  aarrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr


Para onde vamos NÓS?

Se ao menos os velhos voltassem?
Se as pombas brancas falassem?
Se os nossos velhos pudessem se esquecer de morrer,
uma única vez na vida
e se lembrassem da onde viemos, talvez poderíamos
ter mais certeza daquilo que sabemos que somos, 
e simplesmente
SERMOS

FC



D'OÙ VENONS-NOUS?QUE SOMMES-NOUS?OÙ ALLONS-NOUS? 

   " Da onde viemos?   O que somos?   Para onde vamos?"

                                            Paul Gauguin

Nenhum comentário:

Postar um comentário