Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O FRASCO E A NUVEM

Como um hino, jaz
Morta nos braços
Vivos de quem lhe
Traz, cadáver solto
De quem te escrava
Da vida faz, oh
Liberdade cega
Em conceito liberal
Humano te faz usada
Por seres assim
Tao conceitual
Ser nao impresso
Prisioneira de tantos
Sem livre acesso
Ou em ti essencial
Fábula do sagrado
Frasco do perfume
Das nuvens do
Céu, em ti sempre
Imortal...
Inacessível do
Ser sempre um
Cego pretexto
Em essência
Um temporal
Liberta-te de
Ti mesma
E faz livres
Os homens
De dentro
Quando foras
És um lamento
Cega pintura
De humana
Impostura
Posto o dilema
Prisioneira
E algema
Do próprio
Ideal
Faça-te
Perceptível
Onde de fato
És factível
E tocável
Imortal
Sejas para
Além das
Estátuas
E das
Pétreas
Constituições
Sejas maior
Do que vis
Tratos mal
Feitos de
Cegas armadilhas
De humanas
Ilusões
Não mates
Os teus irmãos
Nãos sejas
Tão mesquinha
Liberdade
De um sonho
Pesadelo
Haja nos teus
Anseios, sendo
Eles verdadeiros
Quando não
Existirá
Jamais tempo
Algum
Liberdade
Em uma hora
Sequer
De humanidade
Fora de si
Quando dentro
De nós
O homem
Repleto de
Si mesmo
Não houver
Conquistado
Seu silêncio
E o direito
De ser
Ele mesmo
Percebido
Que é ali
Deusa máxima
Dos nossos
Destinos
Ali dentro
Não fora
Que de verdade
É onde
Moras...

Oh, Dúbia
Face do
Do homem
E do agora
Escravo do
Tempo sem
Tempo para
Ser alguém
Livre dentro
Se livre de ti
Escravos da
Liberdade
Se livrem
De terem
Que ser
Qualquer
Coisa além
Do que nada
E ninguém
Liberdade
Aterradora
Ponha para
Fora tua
Espádua
Libertadora

Mas como
Serás livre
Se tua vida
Existe somente
Fora, a procura
De libertar-se
De tudo que
Te oprime
Menos dos
Atrasos que
Te arrastam
Como uma
Lágrima do
Olho, que
Chora, caindo
Na vida
Como cai
Um minuto
No tempo
Sem hora?

Como serás
De verdade
Uma única
E solitária
Lágrima
De Liberdade?
Ser humano
Sem FLORA



Assim dizia o cego para o surdo no jardim:

-Percebeste talvez um dia o frasco tal que
Jaz em mim, oh ser humano ser imbecil?
Percebeste alguma vez o frescor da luz
Do dia alvorecendo, das flores sorridentes,
A luz que me surgiu? 

E o surdo nada ouvia,
Sequer podia compreender, o louco parecer
De um cego dizendo algo sobre a luz que um
Dia disse ver? Algo sem sentido, no comum
Mundo aparente, quando na fábula do absurdo
Um mudo insurgente com um frasco apareceu,
E de um modo sem palavras ele disse, algo
Que o cego sem ver compreendeu, e que o
Surdo, sem escutar, enxergando entendeu...

-"Aqui tenho o frasco dos grandes perfumes,
Ele é pequeno demais para caber num bolso,
E Grande demais para pertencer a um cardume,
Ou ser guardando numa fábrica de curtume,
Pois dentro dele há o segredo dos homens,
A essência dos lumes, que os fazem deixar de
Babar: - “agonizantes seres:  - que espumem!,
E os fazem luzir iluminando seus seres,
Como lagartas viram borboletas, mosquitos
Viram vaga-lumes, nele há o guardado o silêncio
Inapreensível das nuvens, dentro do frasco
Dos nossos corpos mortais, um pedaço do
Céu a granel, dentro de nós, assim há o nosso
Cume, a Liberdade eterna das nuvens, no
Frasco que somos nós...quem de nós que
Das nuvens escutamos o volume, e dos anjos
Dos nossos sonhos, sem respirar, ousamos
Sentir, o sonhado perfume? O perfume da
Nossa explícita verdade? Quem de nós
Queremos de verdade ser os filhos da
Liberdade? Quem somos nós de verdade,
Seres humanos ou escravos da vaidade?
A chama que inflama o que chamas
de Liberdade? Ou as flamas do que chamas
flamejante Vaidade? Nos quadros e nos retratos 
perdidos ao longo da história dos frascos e dos
Costumes? Onde estamos, nos fracassos que 
ela se resume?
O que somos mais do que poeira e estrume?
Além dos nossos medos e vitórias, as conquistas
Que nos fazem Homens sob os silêncios dos frascos,
a honra incorruptível da verdadeira discrição!
Os méritos e crenças, a liberdade do direito 
que temos de existir, livres dentro de nós,
que há todos nós presumem....
os frascos dos homens, 
e os silêncios infinito das nuvens..."


FC





                        LIBERTÉ GUIDANT LE PEUPLE

                                   Eugène Delacroix 

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