Paralisado, pelo ser humano
Castrados, o eu Castro habitável,
Em tuas lágrimas de dor, o eu
Castro paralisante, o eu Castro
Sabotador, quando castro os futuros
Mais lindos de uma vida plena de
Pleno amor, quando eu castro,
Paralisante efeito dos quartos
Ambulatórios, os intangíveis
Sanatórios quando vivemos
Enlouquecedoramente sós,
Sem andar, sem falar, sem amar
Ambulantes terrenos em
Terras de corpos fantasmas,
Mudos com as bocas costuradas,
Sobrevivemos com a mísera
Compaixão dos restos e das
Migalhas de uma vida sem
Perspectiva, um horizonte
Sem visão, as costelas quebradas
Na mesa, o gatilho no pescoço,
De uma arte surda sem projeção
Sobrevivemos sem cantar,
O mundo dos humanos que
Vibram o sol, que andam e que
Choram por estarem vivos
E caminhantes, sobrevivemos
Esquálidos, presos, amarrados
Ainda por alguém que nos
Ama, morremos uma vida inteira
Vivendo o mundo passado em cima
De uma Cama, da fama de ser um
Amargo dessabor e uma triste solitária
Ejaculação nos diários trocados
Lavados e renovados lençóis de
1500 fios, pendurados ao redor
do pescoço, como cordas sufocantes
como gases angustiantes, carbonizados,
desesperos calados de uma arte e de
um amante, de uma mulher ou de
um homem, de uma voz, de uma alma
num corpo onde o sexo não importa
mais, onde a cornucópia da putrefação
trouxe somente a mágoa e o trauma
de uma vida de carências e de frios
uma existência de medos e de
ausências, de solidões que não voltam
mais, de recolhimentos que nos
matam por segundo, no deserto
de humanos esquecimentos nas
areias mortas em torno desse
nosso morto mundo, o meu gesso
no braço e nas mãos, os meus seios
de rachaduras e violações intocáveis,
grandes muralhas em erosão,
e os tijolos sendo comidos pelos vermes
do subsolo, a cada dia triste de lamentoso
sol, subtraindo da muralha sua força,
rebaixando um gigante aos pés de
um reles e vil anão, assim morro
como todos eles morreram, aos
poucos, em silêncio, parcelas de prestação,
calado, guardando essa morte somente
para mim, devagar, lentamente
me dissolvendo como as grandes
esculturas, os grandes colossos
atemporais, de Rodes sequer um
osso, e nos meus olhos um grande
e impenetrável fosso, de um amante
eterno da Vida, as dores e as cores
De Frida, nas minhas roídas e cansadas
Feridas, morro, sem dizer, evaporando
Com o vento, com as tintas dos quadros
Sem restauração, infeliz por trás do
Meu sorriso alegre, voam-se aos poucos
Os pedaços das dores transformadas
Em carnes, em sangue, em fígados,
Voam-se os meus terrores e os meus
Amores no deserto de mim, passado
De tudo que já fui, voam comigo, no
Silêncio mais remoto da minha
Sepultura, levo todos que amo
Para sempre ao meu lado, para
Sempre comigo, para renascerem
Para além das minhas egoístas dores,
em outras Vidas, sem camas com camisas de
Força, somente um campo verde e um céu
De estrelas espetaculares, com canoas brancas
E anjos remadores...
E lindas Margaridas, lindos girassóis
E rosas, rosas coloridas, e um campo
Infinito,
Um campo infinito de flores....
FC
"SEM ESPERANÇA"
Frida Khalo
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