Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

A ÚLTIMA BAILARINA

Leve, voando com destreza
tamanha leveza, dançando no ar,
um pássaro sem predador,
uma pluma sem pousar
rasante, passa cortante,
notas tuas tão falantes, um
passado instante no ar,
as sapatilhas flamejantes
deixam para trás somente
traços desfigurados,
de ex-futuros, ex-amantes
tudo que no agora será
distante, o impossível
que nunca lhe deixará
livre e tão solta, esbelta
e desenvolta, para como
um flama de ballet dos astros
sobre a pele ardente do sol
sem dor ou tremor,
nuamente dançar e dançar...
sem cansar, sem parar,
para todos flutuarem,
sobre a pele de fogo,
quebrando as correntes
do ar!


Dance, dance
bailarina flamejante,
e deixa para trás cada um
de teus passos vacilantes
dance e dance sem parar
atordoando teus mentores
sublimando teus amores
fazendo da cáustica
disciplina de uma perna
envergar,  uma milagrosa
serpentina para todos
encantar , minha pequena
alma dançante,
prima ballerina,
bailaria flamejante,
dance sem parar,
nos teus encalços
os rostos tantos
dançantes, os futuros
passados dos amantes
passados futuros
inconstantes, dance sem
parar, em teu tule uma
leveza de poder
passar pelos tremores
sem um dedo
estremecer,
sem um músculo entortar
sequer um angulo desalinhar
ultrapassar os “acidentes”
coincidentemente
acidentais, sem mais
escorregar...

ALMA

dançante cuja espinha
jamais entorta, passando
com tua saia pelos
silêncios, drapejando
o ar, o nó da garganta
desatarraxando,
boiando, como uma
sereia nadando
pelo ar do quarto,
da sala, do jardim
da sala de chá
do foyer ao camarim
dentro de mim,
no palco do meu
olhar, teus tecidos
trapeados, pairando
como uma chama
acesa sobre a vela,
como uma certeza
que não se demole,
nunca....
que não se corrói
jamais
um pássaro feroz
cuja asa não se
destrói, cujo bico
não cala, cujas
sapatilhas não se
castram, passarinha
de fogo e de vento
passante ondulante
na velocidade de
um pensamento
capturava a pincelada
de um instante
assim como um fada
ilumina as trevas dos
amantes alados
pelo destino, com a
ternura de um
espartilho mágico
e uma varinha sem
compostura, dançando
sobre o fogo e
abrindo nas paredes
as soldadas rachaduras,
dando vida eterna
as imóveis esculturas,
dançantes no
mármore tumular,

oh, bailarina flamejante
quando voltarás
desses teus dias
alucinantes, de tua
dança mitológica
como Ariadne sem
destino, descalça
sobre a maciez da
areia, parou o mundo
inteiro ao dançar,
e dançar faiscante,
parou os deuses
os amantes  e o mar
bailarina flamejante,
para sempre o passado
deixará, incendiado
mausoléu de lembranças
cinzas ao vento atiradas
quando cremado
cada arranhão, cada
torção, cada triste
vacilada de carnes
e luxação, fraturas
expostas em perdurável
solidão de ossos
e nervos em junção

já conquistastes tua
medular estrutura,
portanto dance, e
nunca pare de dançar
bailarina flamejante
parando o mundo inteiro
aos teus olhos, e sob teus
pés , douradas sapatilhas
sonoras trilhas a se buscar
o mundo inteiro terás,
para encantar e sobre
ele dançar....amando,
dançando e voado
como uma sereia solta
alegre no mar

basta dançar,
dançar,
e sorrir,
e voar....

dance, dance
minha bailarina
flamejante...
dance sem parar!!!



FC 






                                   PRIMA BALLERINA

                                         Edgar Degas

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