Assim num sopro ao relento me criastes, em áspero leve
toque, me fizestes, como se nada fostes para vós , uma simples significação, num
jardim de intocáveis infâncias, sagradas lembranças de jabuticabeiras e árvores
imortalizadas pelas vossas viagens de maestrias siderais, atravessavas os espaços
com a força do pensamento, éreis mais forte do que o trovão em movimento, éreis a
luz e a energia reveladora do mundo em formação, éreis vós, oh fonte suprema do
conhecimento, enquanto eu vivia as divinas aventuras de um simples retrato da
vida, aprendiz de viva pintura, vendo as estrelas cadentes no céu, e as
lágrimas moventes no papel em criação, éreis celeste, e dial, éreis o Pai do
mundo, a ponte entre o Céu e a Terra, éreis a nossa união....
Infinita distância entre vossa
Responsabilidade e a realidade de vossa criação, oh Pai, o que
fizestes se não um ser Humano filho celeste, que depois quando rompido o
incompreensível entre nós, algo sempre limitado pela abominável distância de vossa inalcançável superioridade, de um ser sempre além de qualquer explicação, do
vosso mundo me expulsastes, livrando-vos de vosso filho como do fruto podre
proibido, já nascido corrompido , pelas leis dos homens de retidão, me
expulsastes sem olhar, sequer uma fria lágrima despendestes, apenas um gélido
sermão, uma única palavra de "à Deus", esse foi o milagre da criação, oh Pai
celeste, o toque de vossas mãos, e os milênios de uma sepultura inexpressável de
inconsolável solidão, a sóbria Ruptura entre o Homem e a Criatura, entre o Ser
Deus e vossa loucura, quando em Peremptória condição, me vi no exílio vexatório
de meu próprio coração, sofrendo lágrimas de uma humanidade apenas por assim
ter nascido, simples e honesto, do barro modesto em lama ter sido feito, e lama
ter engolido, do próprio gen em gestação, vim do inexplicável, de um além que não
sei da onde, nem por que, para desterrado sem horizonte, sem Terra permanecer, em tão humana condição, humana materialização de
filho, criatura, criação, banida eternamente, condenada ao exílio perpétuo de
um retorno sem volta, sempre, mesmo quando juntos, um eterno desaparecimento, como se
a invisibilidade fosse condição manifesta em todos os nossos encontros futuros de
qualquer mínima humanidade entre o ser humano e Deus... como se jamais atravessaríeis o muro, nunca mais! Intransponível muro! Para sempre,
desde ali, sabíamos que as luzes se apagavam, as chamas se aclamavam chorando
friamente a impotência de tamanha irreversibilidade...estaríamos para sempre no escuro...
Existência sem sentido, todos banidos, expulsos e mutilados pelo
Alquímico criador, procurando um escolho singelo de puro e atenuante amor! Oh Ser
celestial dos mundos espaciais transpostos mundos cósmicos dentro de mim, como
posso germinar sementes, se mortos foram ceifados os filhos do meu jardim? Como
posso amar os frutos se amaldiçoados as primordiais flores iniciantes assim dos
furtos do meu precoce fim? Oh, castrado ser da bendita perversão de somente ser,
maldito em gestação absoluta de ser o que és, o que sempre fui, a criação mais sincera de tudo que sou em mim! De ser força e tempestade , de
ser grito e revolução, de ser voz e temeridade, terremoto e destruição, quando
fazes até mesmo o pai celeste tremer em tua impávida solidão, quando arrancas
do teu pescoço a gema do olho do mundo, e num ato de imensidão, como um ar nos
olhos plenos de um abraço de vento e furacão, num sopro desfazes a pomposa desumana
coroa, destronando o tempo passado, um Cronos morto e trucidado, como as
plantas mortas numa nova era, trazendo para as novas andorinhas vivas um novo e
jovem verão.
Assim, morro dentro de mim, renasço para ser somente vida
e imensidão, choro para esquecer os frutos amaros do passado, os tristes mortos
de uma vida de tortura, as câmaras das loucuras, ondes os fantasmas cantam nas
vozes de um
Coro de mil faces, as máscaras diabólicas do criador
flagelador de sonhos e futuros humanos possíveis, quando expulsos do jardim, os homens mataram a sua flor...
Mas não além do
impossível e da dor, putrefato ceifador,
abominável Cria Dor, pois até o inferno irei e com os anjos rebelados me agruparei
para ajudar os meus irmãos a se lembrarem, se assim necessário for, que enquanto a alma humana livre e imortal , viva e vibrante for, não importas o teu grito, o teu escárnio de horror, seremos os pássaros da
eternidade, e guardiões de uma semente de puro e invencível AMOR,
NADA nos impedirá, meu pai celeste criador, pois é lá,
dentro de nós, que mora o jardim, as pétalas da felicidade, onde tua dor não
atingirás, mísero criador, é lá que vivemos intocáveis, humanos e celestes,
juntos, em nosso hino, regando a cada dia com pequenas gotas de alegria a nossa singela e humana
Flor.
É lá que não poderás nos tocar, pai nosso que estais no céu, pai nosso criador, é lá,
para além das lágrimas, das chuvas e das tempestades
que nao poderás nos torturar,
para além dos tempos
santo cristo redentor
é lá que não poderás
nunca mais
fazer-nos
sentir
dor
Oh Pai Nosso
CRIA DOR
FC
"A CRIAÇÃO DO HOMEM"
Michelangelo
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