Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

A ESPERANÇA É UMA MANCHA



                            "NAVIO DE EMIGRANTES"
                                     Lasar Segall


No horizonte eu vejo uma mancha,
Uma mancha eu vejo no horizonte

O que é uma mancha no horizonte?
Manchado

Uma mancha que não se desmancha
No horizonte manchado uma mancha
De esperança

O que são manchas senão borrões
Ainda apagados, futuros sonhos...
De esperança...?

O que são sonhos senão esperanças?

O que são manchas senão esperanças
No horizonte manchado esperando...
Esperando...boiando...boiando...

Manchando....manchando... o tempo,
E o algo que espero de um sonho
Na espera de uma esperança amanhã
Atravessando um oceano de esperanças

Um barco de esperanças manchadas
Fuziladas
E mortas

Os corpos boiando nas esperanças
borradas
humanas manchando a cor
da esperança verde no azul do oceano
as manchas de sangue vermelho
de sangue humano

no horizonte eu vejo uma mancha
uma mancha eu vejo no horizonte

os barcos afundando
e o tempo passando
no mesmo navio
nos mesmos borrões
inconclusas soluções que somente emigram
ano após ano
para o mesmo lugar
uma esperança de manchas
a espera de um sonho

e um só oceano


FC

Um comentário:

  1. Lindo! Atual, tem a ver com os imigrantes q morrem no mediterraneoe a palavra Mancha, repetidas vezes, linda harmonia, drumondiana...👏🏼👏🏼👏🏼🔝🔝🔝❤️😘

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