Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O BOLERO DO CÉU

Pare esse trem,
...eu preciso descer do mundo,
Agora!
Escuto um grito de desespero vindo do céu...
Um chamado, um clamor, um pedido de socorro, um algo atravessador...
Flechado tímpano mortal, surdo no coração extravasado, não posso mais conter-me, em uma só noite, em um só pecado apenas....!
Sim, pare o mundo que preciso descer....
Ou não, talvez esteja enganado...
Não, não pode ser, urro este de tal tamanho colossal
Só brota de formosa indescritível alegria...
De um mundo além do tangível sonho, vulcânico clamor etéreo e visceral
Sim, é uma celestial sinfonia...é isso que és....
É o jardim de Ravel,
No Bolero Azul Turquesa do Céu!

Sim, goivos caindo como gotas de chuva
Goivos de anjos
De suas cornetas goivos celestiais, 
De suas trombetas lágrimas germinais!
Foi um passageiro engano, não era de desespero o grito,
Era puro jubilo de um inexpressável contentamento,
Um ai atravessador das esferas celestes musicais, rompedor dos equilíbrios
Sonoros e mortais! 
Podemos continuar a viagem, pois vejo um jardim cujo formoso fazendeiro tem um
Orgulho de transbordar o mundo...seu pranto é de desalinhar, seu querer é
De entortar, seu gozo é de renascer, de reviver, de arrebentar....os acústicos
Tijolos das limitantes paredes do céu, os tijolos do invisível, a flutuar,
No mais crível do impossível, seus muros de turquesa azul celeste ultrapassar...
O que fazer, quando rasgado o véu do zênite celestial, aquele que nos proteje do fim, e revelado para todos nós o mundo sem pecados na beleza eterna de um jardim?

Os corpos tão amantes, as plumas flutuantes, as segundas antes dos domingos, os morcegos viraram flores, e as cobras são flamingos...rosas, dançando soltas pelos arvoredos...  os sonhos de Bosque! 
Preciso trafegar pela miséria do meu corpo, atravessar as limitantes figuras que habitam em mim, para alcançar tal terreno, de azul tão açuceno.... preciso desmanchar os meus inimigos vencedores, os servos dos arrependimentos, dos amargos ressentimentos, os escravos dos rancores, os tumores , os vis tumores, preciso deles me livrar, para no jardim minha semente liberta assim plantar, nesse cântico de Ravel, um pedaço do meu céu, eu sonharei, minha semente, no papel eu plantarei, e com aqueles dos corpo mutilados, sem preconceito, Eu dançarei....

As virgens prostitutas, os padres endiabrados, os maridos pederastas, professores frustrados, os médicos mercenários, e os repórteres sanguinários,
Os filhos perdulários, os políticos mandatários, os corruptores e os falsários, amantes do pecúlio, os filhos do peculato, os pais da prevaricação, os pais que nunca pais souberam ser, os filhos da solidão... os perpetradores do nepotismo, do cinismo, do egoísmo, todos em santa orgiastica comunhão, todos em melódica harmonia, santa Cristica sinfonia: as putas e as batutas, os guardas de farol, os mecenas apropriadores, cafetinas e cafetões, os pintores de borrões, os pérfidos banqueiros, os falsos amantes, os falsos atores, poetas, e escritores, os falsos humanos em geral, todos no ápice do bacanal, sem orgulho, sem final, os seres rotuladores de pessoas, seres do preconceito delicioso de ser humano para somente ser mais humano do que os outros, humanidade deliciosa, em sua essência vil preconceituosa...ser humano glorioso e sem fim.... onde somente és humano para ser mais humano do que “mim"....! 
isso,
São os gloriosos homens do jardim....
Plantados no quintal,
Como céticas plantas de cetim,
Brinquedos de borracha,
De plástico Natal
As inacabadas delícias sem fim,
As pétalas da rosa púrpura,
De sangue, de fígados, e de rim!

Deliciosas delícias reveladoras
Dançando inocentemente, sem culpa
Inconscientes,
Peladas no jardim


FC




                              O JARDIM DAS DELÍCIAS

                                    Hieronymus Bosh







2 comentários:

  1. Amei!, explosão da libertação!!!
    ..." É o jardim de Ravel
    No Bolero Azul Turquesa do Céu...", como você dança com as palavras, frases , transformando-as humanas, partes integrantes do teu Jardim....

    Lindo mesmo!!!! Bjus iluminados💋✨💋⭐️💋👏💋✨💋✨💋✨✨✨

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  2. Vibrante, esse!Uma explosão sufocante de alegria que no decorrer do texto,contrasta com a sordidez do mundo,mas o jardim está sempre lá...ou seja nossa tendencia de a dar importancia ao caos,e nem sempre perceber as bençãos👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻🔝🔝🔝🔝😘😘😘😘

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