Os quadros falam sem dizer. Falam dentro de nós, gritam, choram, fazem nos ouvir vozes que muitas vezes não queremos escutar. Mas em si, são emoldurados pelo silêncio inerente aos objetos, às pinturas. Um quadro não fala. Mas se fizermos uma ligação das vozes presentes nos quadros mudos, que nós ouvimos cada vez que apreciamos um obra de arte de significativo porte, e as molduras que cercam a tela, poderíamos dizer que são elas, as barras, as selas, as contendoras das vozes dessas inúmeras pinturas que imploram para dizer o que já está sendo dito. As molduras do silêncio. A prisão em torno dos homens, que vivem numa cela invisível, e não falam, não cantam, não sorriem. Talvez se removêssemos as grades que nos cercam, ou as molduras das pinturas, o silêncio seria quebrado e nossos gritos seriam mais do que uma breve, passageira, e interior inaudível loucura silenciosa. Assim, resolvi remover as molduras do silêncios dos tantos quadros que contam a nossa história, e deixar eles falarem através de um interlocutor, que como qualquer outro, poderia escutar, outros silêncios, outras vozes, outras alegrias, outras dores.

terça-feira, 2 de junho de 2015

A CELA INVISÍVEL

Ser vil ou covil?
Quem mesmo
Lhe serviu?
Quem mesmo
Lhe traiu?

Com as pernas
Cruzadas, em
Vil desprezo
Criatura dos
Morros de dor
Enquanto morro
Em tuas más
Morras, morra
Teus olhos
De masmorra
E alçapão,
Jamais consegui
Escapar desse
Olhar hediondo
Uma, duas, três
Vezes a mesma
Hediondez,
Sempre os teus
Inescrupulosos
Atos e a minha
Impotente
Permanente
Indecente
Invalidez

tuas nojentas mãos 
no meu quadril


Ser covil do
Vil pensamento
Semente do
Horror....que
Provocas nas
Tantas gentes
Dependentes
Do teu favor...

Ser vil 
Humilhador

Ser humano
do prestigio 
cuja pauta
é a supremacia
absoluta do
humano valor


Transformador
de lares em
bordéis 
particulares,
fazes de uma
familia o teu 
Canil 
particularmente
Hostil


Ser vil que não
Serviu mais os
Teus berros
E gritos bestiais,


Ser vil que não
Viu mais teus
Servos assim
Tão de quatro
Bestas Animais


Ser vil do covil
Somente, cova
Do indigente
Inabitável que
Mora em ti,

Covil desesperado
Do amargurado
Desfigurado
Que vive em
Ti, onde ninguém
Nunca sorriso
Viu, servil do
rosto frio...

Mãos sem gesto
Apertam a dor
De ser vazio
Ser vil do
Ser um só
A cela que
Te sorriu
Envolta de
Ti essa cela
Sem janela
Ser vil do
Teu covil
Uma cela
Invisível 
Sem sequela
De felicidade
Ser que nunca
Foi gentil!


Uma lágrima
No meio
Te partiu
Os olhos
De fuzil
E uma bala
Certeira e
Imaculada,
A voz de tantos
Injustiçados,
No meio
Da testa
Lhe atingiu

Ser homem
Ou ser covil?
Quem foi
Mesmo que
Te traiu?

Ajudas não
chegam à
quem nunca
existiu!

Ser humano
Tão Servil,
Agora limpe
Com os próprios
Panos,
Os enganos
Dos anos
Da terra morta
Tantas e tantas
Minhocas
Que nessa
Tua nova e visível
Cela,
Será o verme
Que te sorriu

Quem foi mesmo
ser vil, que te 
traiu?
Quem foi mesmo
a puta 
que te pariu?



FC



                                THE SEATED FIGURE

                                     Francis Bacon

2 comentários:

  1. Impressionante,vc é um Boeing,voa a jato de Veneza para o Nepal,assim como sai das virtuosas dores do amor,ao pesadelo dos nossos carceres imaginarios,da incompreensão,das armadilhas da traiçoeira maldade deliberada....da injustiça do mundo,🔝🔝🔝🔝🔝😍😍😍😘

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